Crianças fazem birra. Você sabe por quê?

menino chorando e fazendo birra
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Qual criança nunca reagiu de forma explosiva ao ouvir um “não”? Independentemente da forma de criação ou da sua personalidade, crianças fazem birra em momentos em que têm uma vontade é frustrada.

A reação pode ser chorar, gritar, se jogar no chão… Os pais ficam sem saber o que fazer diante de todo aquele alvoroço, causado por algo que para eles parece tão pequeno, como por exemplo a criança ter que parar de brincar para ir tomar banho.

A verdade é que existe uma explicação científica sobre o que leva as crianças a fazerem isso. Esse tipo de reação está relacionado à formação do cérebro e, portanto, a birra faz parte do desenvolvimento infantil.

Entenda melhor os motivos das reações explosivas do seu pequeno para saber a melhor forma de lidar com a birra:

Por que as crianças fazem birra?

Quando nascemos, nosso cérebro ainda não está completamente desenvolvido, por isso as crianças são tão dependentes de seus pais. Ao longo dos primeiros anos da infância, o cérebro está em constante formação, o que influencia diretamente no comportamento infantil.

Uma das regiões do cérebro que ainda está se desenvolvendo na criança é o chamado neocórtex, importante para a nossa capacidade de reflexão e de solucionar problemas. Nos primeiros anos de vida, os neurônios dessa região ainda não fazem todas as conexões necessárias, por isso não somos ainda capazes de tomar decisões equilibradas e nem de prever as consequências das nossas ações. Esses conceitos estão explicados na Enciclopédia Sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância, disponível em 5 idiomas aqui.

Por outro lado, a parte do cérebro onde que desperta emoções já está bem desenvolvida desde o nascimento. É com ela que a criança tende a reagir quando ainda não têm seu “cérebro racional” totalmente pronto para tomar decisões. Segundo esse artigo da Superinteressante, o cérebro racional só atinge a maturidade plena por volta dos 25 anos de idade.

Nos primeiros 4 anos de idade, os dois hemisférios cerebrais ainda não são capazes de trabalhar de forma integrada, o que dificulta o comportamento equilibrado. O lado esquerdo, importante para o pensamento lógico e pela linguagem, é menos ativo do que o lado direito, que é intuitivo e emocional.

Ou seja, a birra é a emoção comandando o cérebro da criança em situações que despertam algum tipo de insegurança.

O que causa um ataque de birra na criança?

A frustração, a fome, o cansaço, o barulho excessivo ou um ambiente com muitas pessoas: qualquer situação que exija uma adaptação da criança pode levar a uma reação de estresse e a uma crise de birra. Nesse momento, o cérebro libera adrenalina e cortisol, fazendo com que a criança fique tensa. A birra é a sua forma de liberar essas tensões.

Para uma crise de birra acontecer, é preciso que algo acione no cérebro infantil o alarme da raiva, do medo ou do temor da separação. Por causa do seu estado de desenvolvimento cerebral, as crianças ainda não conseguem usar a lógica e nem expressar seus sentimentos pela fala. O resultado é uma reação puramente emocional e desproporcional aos olhos racionais dos adultos.

Leia também: É normal a criança mentir?

Qual é a melhor maneira de reagir quando crianças fazem birra?

Já que a birra faz parte do desenvolvimento infantil e dificilmente pode ser evitada, é importante saber como lidar com a criança que passa por uma crise para ajudá-la a se acalmar mais rapidamente. Veja abaixo algumas dicas:

O que não adianta:

  • Argumentar: A criança em uma crise de birra está dominada pela emoção, ou seja, a parte do cérebro responsável pelo pensamento lógico que já é limitada pela idade está ainda mais inacessível. Por isso, até os 4 anos de idade, argumentar com a criança dificilmente vai ajudá-la a se acalmar.
  • Prometer para depois: Quando crianças fazem birra porque querem ganhar um brinquedo, por exemplo, uma reação comum dos pais é explicar que naquele momento não vai dar, mas que depois vão fazer o que a criança quer. Como as crianças ainda têm pouca noção de linearidade e de passagem do tempo, essa técnica não costuma ser muito efetiva.
  • Reagir de forma explosiva: No momento da birra a criança já está muito emocional, e uma reação emotiva dos pais vai colocar ainda mais lenha na fogueira. A agressividade pode aumentar ainda mais a sensação de insegurança, piorando o estado da criança.

O que funciona:

  • Mudar o foco da atenção: uma forma rápida de acabar com um ataque de birra é atrair a atenção da criança para outra coisa, mostrando algo interessante para desviar o seu pensamento daquilo que despertou a reação emotiva. O Pote da Calma é um recurso que pode ajudar a acalmar a criança nesse momento.
  • Despertar a racionalidade: uma das indicações de especialistas é que o adulto tente fazer a criança pensar racionalmente. Por exemplo, se a criança precisa parar de brincar para ir para a escola, tentar explicar o motivo de ela precisar fazer isso, despertando seu interesse pelo que vai acontecer em seguida, usando sempre palavras acessíveis para a criança.
  • Abordagem emocional: especialistas também defendem que o mais eficaz em uma crise de birra é abordar a criança de forma emocional, já que seu cérebro está dominado pela emoção. Durante a birra, tente abraçar a criança, demonstrar sentimento pelas expressões, e falar com um tom carinhoso. A ideia é expressar em palavras aquilo que a criança está exprimindo emocionalmente, como: “Eu entendo que você está triste por ter que parar de brincar, é chato ter que parar de fazer algo que gostamos” – isso vai acalmá-la. Depois, é preciso ajudá-la a se conectar com a parte racional do cérebro, propondo uma solução, por exemplo: “Que tal a gente levar um brinquedo para o banho? Não seria legal brincar com a água?”.
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Influência dos pais

As mães e os pais, como costumam ser as pessoas que mais convivem com a criança, influenciam diretamente a forma como os filhos reagem e enfrentam diferentes situações.  Isso também é explicado pela ciência, que descobriu os chamados neurônios-espelho: um grupo de células que são ativadas no cérebro humano quando observamos outras pessoas fazendo uma atividade. Esses neurônios nos ajudam a aprender como imitar aquilo observamos. Isso acontece em qualquer idade, mas nas crianças especificamente reflete a grande influência dos adultos com quem ela se relaciona.

Por isso, o exemplo é o que vale! As crianças aprendem constantemente por imitação, então o tipo de comportamento dos pais pode influenciar tanto durante as crises como também em outros momentos da vida do filho.

Em um momento de birra, por mais difícil que seja, é importante não entrar no fluxo da emoção. Manter uma atitude calma quando isso acontecer ajuda a criança a internalizar esse aprendizado a longo prazo, ainda mais porque seu cérebro está em processo de formação.

Leia também: Dicas de psicóloga para melhorar a rotina com os filhos

7 comments
  1. Eu estou passando por esse momento com meu filho. Ele tem 4 aninhos e é cheio de birra.
    As vezes faço o que ele quer e as vezes não faço. Nessa hora ele fica fazendo birra…falo bem calma com ele e digo que amo muito ele.

    1. Oi Dilma! Obrigado por compartilhar sua experiência com a gente 🙂
      A fase dos 4 anos costuma ser marcada por essa tendência a fazer birra mesmo. Parabéns por manter a calma nesses momentos! Com o tempo o seu pequeno vai entender as coisas de forma mais racional, então você poderá lidar com as crises incentivando-o a entender as razões em cada situação.
      Um abraço 🙂

  2. Olá,eu tenho uma filha de 5 anos que não quer ir pra escola pra ficar longe de mim ,percebo que ela tem esse medo até mesmo dentro de casa mesmo estando com o pai ou irmãos,estou sem saber o que fazer.

    1. Oie, Clécia! Tudo bem?

      Agradecemos pelo seu relato!

      O retorno escolar pode gerar a chamada ansiedade de separação nas crianças. Isso acontece, pois os pequenos ainda não se acostumaram com a rotina de aulas e se sentem ansiosos por não ter nenhum familiar por perto na escola. Essa ansiedade pode ocasionar outros comportamentos também, como o medo de ficar minimamente longe da mãe, por exemplo. Nesse artigo: https://www.dentrodahistoria.com.br/blog/familia/como-combater-ansiedade-nas-criancas/ trazemos algumas dicas para lidar com os episódios de ansiedade infantil que as crianças podem apresentar.

      Além de práticas como o diálogo e a escuta ativa, também recomendamos buscar o apoio do especialista que acompanha o desenvolvimento da sua pequena.

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